DE MOTO RUMO A ARCA

                                       

             

             

Resolvi tirar mais um mes de minha merecida licença-prêmio e, deste período, uns dias só prá mim.

Procura daqui, procura dali um lugar onde ir, me "caiu" nas mãos o link da Ecovila Arca Verde. Como tentar viver ecologicamente, sem agredir a natureza, é meu interesse há algum tempo e eles oferecem a opção de voluntariado, mandei e mail e acertei tudo.

E lá me fui, pilotando minha moto pela primeira vez em uma viagem longa (distância total na ida e volta a S.Maria foi de 976 km). Claro que nesta primeira vez acompanhada por "meu" Guri Estradeiro.

07/05/2012, 8:30 h saimos de Santa Maria rumo a Arca Verde que fica em São Francisco de Paula- RS.

Sol maravilhoso. Friozinho bom. Motos devidamente carregadas. Nós devidamente vestidos.

A Arca fica uns 8 km após São Francisco de Paula, indo uns 2 km pela RS020 em direção a Tainhas, até placa escrita “Caconde – Boa Esperança”, no KM 97, onde vira-se a direita e anda-se em torno de 6 km por uma estrada chão boa até a porteira de entrada.

Foram 388 km até a Arca, indo por Santa Cruz (RS287), Venâncio Aires(BR 386), Montenegro (RS240), Portão (RS 122), Estancia Velha, Sapiranga (RS239), Parobé, Taquara(RS020) e São Francisco de Paula, parando somente para almoçar e abastecer as motos.  

Entre Taquara e "São Chico"- RS 020 descobri que Santa Maria e região não haviam me preparado para curvas tão fechadas e longas. Mas, respeitados os limites de velocidade indicados e os devidos cuidados, me saí muito bem. 

Região de paisagens lindíssimas. Estávamos quase no "topo" do mundo. Só neste momento queria estar na garupa para poder fotografar, já que não podíamos parar porque a estrada não tem acostamento nem local apropriado para paradas estratégicas assim. 

               

 Chegamos na Arca em torno de 16 h. Num primeiro momento, estranhamento e surpresa - 5 casas de madeira a beira de um lago, 2 "casas" redondas e, totalmente deserto. Não havia absolutamente ninguém. Andamos um pouco e sentamos esperando. Após uma meia hora apareceu um casal, morador do local. Fomos, então recebidos e acomodados.

               

            

           

Nesta primeira noite ficamos em um chalé para visitantes e, junto com outros integrantes da Arca, participamos da janta coletiva. No dia seguinte, dia 08/05/12, Gilberto foi para Taquara e eu fiquei, indo então para o alojamento destinado aos voluntários - A Casa Grande.

            

 

Ecovila Arca Verde é um local onde as pessoas vivem em comunidade, coexistindo harmonicamente com a natureza e em contato direto com ela. Tudo ali é feito, construído, organizado de forma a preservar, respeitar o meio ambiente. Não há agressão, não há consumismo. Se vive com pouco e, este pouco, é mais do que suficiente.

Além dos moradores, tem os voluntários que ajudam nas tarefas diárias de construção e manutenção da comunidade. Tudo é feito por todos, em um sistema de escala semanal de tarefas. As refeições são feitas em conjunto na cozinha comunitária.

As normas da Comunidade são regidas por Acordos que envolvem respeito, lealdade, companheirismo, troca de conhecimentos, não vícios (droga, álcool, tabaco), não fofoca, etc. Assim que os conseguir, transcreverei aqui.

 

           

          

 

A escala de trabalhos é definida nas terças feiras, após o café da manhã e vigora de terça a sábado. O trabalho é realizado das 9h as 13 h. A tarde é liberada ou utilizada em outras atividades.  Os domingos e segunda, são dias de folga, onde cada um faz o que tem vontade.  Por  isso, em nossa chegada  encontramos o lugar deserto. 

As tarefas são divididas em “cotidianas” e demandas.

As cotidianas são as que devem ser realizadas diariamente como as refeições, alimentar as galinhas, limpeza e manutenção do banheiro seco,  colocar o lixo orgânico na composteira, cuidar das crianças, etc   

          

                  Preparo de Refeição na cozinha coletiva

         

         

                 Cuidando das Crianças

As demandas são tarefas que precisam ser feitas  e que tem tempo definido para serem executadas,  como fazer o isolamento térmico dos chalés, construir o quarto do Mig,  catar pinhão, etc

Todos fazem tudo. De forma igual.       

Quarto do Mig – O Mig tem 3 anos e é morador da Arca. Seu quarto está sendo construído anexo ao chalé. Suas paredes são construidas  com uma mistura de barro + areia + capim, entremeadas com toras de madeira, garrafas, vidros de carro velho, vidraças usadas e telhado vivo.  Tudo reaproveitado, reciclado.  As paredes são rebocadas com uma mistura de barro+esterco+areia e algumas pintadas com cal. A parte de madeira do piso levará cera (cera de abelha+querosene). 

        

              Quarto do Mig ao fundo

        

                    Quarto do MIg sendo rebocado

          

       

        

             Paredes internas, os vidros coloridos são garrafas

 

Banheiro Seco - Também em bioconstrução, como o quarto do Mig. É assim chamado porque não utiliza água. 

 

         

         

         

                  Pintura existente dentro do banheiro seco na Arca Verde

         

                 Após ser retirado do Banheiro seco, o tonel é fechado e permanece assim por

            uns 3 meses, indo depois para a compostagem aberta, onde passa por cada um 

            dos 4 quadrantes, para depois ser utilizado nas plantas.

 

 

    Sistema de aquecimento dos chalés

                               

          

          

Nos chalés também estava sendo feita a colocação de capim+barro entre as paredes (paredes externas duplas), para ajudar no isolamento térmico.   

          

A arca é um lugar mto bonito, de uma energia envolvente. Todo o ambiente é agradavelmente aproveitado, respeitando a natureza, em harmonia com ela. É ladeado por uma mata nativa fechada de um lado. E um açude que reflete constantemente toda a beleza do lugar e do céu. A noite é particularmente bonita.  A intensidade do céu estrelado nos fez varias vezes ficarmos parados no escuro, sem palavras, apenas agradecendo.

       

        

        

O  caminho até a casa grande – casa dos voluntários, é feito por uma trilha pelo meio do mato e ladeando o açude.  

        

        

 Quem não tinha lanterna, como eu, utilizava uma latovela para iluminar o caminho .

        

        

Estar na arca é uma experiência ímpar. De uma certa forma, é como se estivéssemos fora do tempo, mas com todo o tempo a nosso dispor.  Não há correria, não há stress, não vi mau humor, má vontade, o fazer por fazer ou de qualquer jeito. Todos, ou a maioria, compartilha a vida com disponibilidade. A ajuda mútua é constante.  Há o prazer de estar ali, e de fazer o que é preciso.  Colaborando e compartilhando .

Ninguém manda, ninguém obedece, não há cobrança. Simplesmente se faz  com responsabiliidade. Nas escalas cada um escolhe o que quer fazer e elas são cumpridas da melhor forma.

Conhecer a Arca, partilhar com as pessoas que estão lá esses 10 dias foi uma experiencia enriquecedora, que só o tempo dirá o quanto. 

     

VEJA MAIS FOTOS EM -   https://guriaestradeira.no.comunidades.net/index.php?pagina=1627746438_01

Links -

Arca Verde - https://www.arcaverde.org

Arca Verde - Doc. parte 1 - https://www.youtube.com/watch?v=YvB7OFX_L3Y

Arca Verde - Doc. parte 2 - https://www.youtube.com/watch?v=20G8C7P9jPc&feature=relmfu

Caminhos para a Vida Sustentável-

                                      https://www.youtube.com/watch?v=yBzUmhVfr74&feature=related

Anochecer en Arca Verde - https://www.youtube.com/watch?v=kGEAgFdGFqs